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domingo, 27 de janeiro de 2019

O MITO DA LOURA BURRA, AQUELA QUE OS HOMENS PREFEREM.


Antes de tudo, é preciso que você me conheça. Sou um homem que respeita com igualdade todos os gêneros que existem sobre a face da terra, e abaixo dela também. Outra coisa, não sou do time da Damares no que se refere ao combate à prostituição. Considero esse um serviço como outro qualquer, sem nenhum tipo de demonização ou glamorização: alguém oferece um serviço que outros necessitam, recebe por isso e deve fornecer o melhor trabalho, e só, como deve ser no bom e velho Sistema Capitalista do qual sou adepto. Apenas sou intransigente quanto ao bom caráter e a honestidade das pessoas, seja qual for a sua função social.

Todo esse parágrafo é para poder comentar OS HOMENS PREFEREM AS LOURAS, nos dias de policiamento em que vivemos, best seller de Anita Loos de 1925, lançado no Brasil somente em 2000. Um delicioso retrato da loura burra desprovida de neurônios, nem um pouco escrupulosa, que vence pela beleza e cabelos dourados emoldurando a cabecinha completamente oca. O nome dela não é Jenifer (ou Jéssica, sei lá!), e sim Lorelei Lee.
(Anita Loos em 1925)

Essa foi minha primeira e certeira leitura de 2019. Uma leitura “devina”, como Lorelei adora se referir em seu diário, digno do grande teatrólogo “Shakespir”, mas não daquela famosa tragédia que aconteceu com ele em “Ramlet”. E preciso confessar, até mesmo para recomendar: nunca um livro me fez gargalhar tanto, e ao mesmo tempo sentir tanta raiva pela postura inescrupulosa e antiética de uma personagem. Então, agora sou eu que digo que esse livro é mesmo “devino” e bastante “educativo”.


A verdade é que a loura burra é um mito! Sim, porque ela bem pode ser morena, ruiva, negra, e até um homem. A valorização da beleza física e o desprezo pela cultura, a glamorização do golpista e da “esperteza”, sempre estiveram presentes nas nossas sociedades, independente de sexo e da cor do cabelo. Porém, o mito foi criado a partir desse livro de 1925, seguindo até nossos dias (pobre das louras superinteligentes que estão por aí, precisando provar dia a dia o seu valor...). Mas, como o objetivo é falar sobre Lorelei, vamos nos referir a loura burra e safada, sem querer parecer misógino, sexista ou racista. Ok?


A personagem Lorelei é terrível! Isso é o mínimo que poderia usar para me referir a dita pessoa. Ela se traveste de infantilóide para aplicar seus golpes nos “cavalheiros”. Cultiva a ignorância, porque sabe que os tais cavalheiros gostam disso numa mulher (a escritora Anita Loos foi bem crítica nesse ponto). A loura do livro sabe como manipular um homem à perfeição, traindo seus “benfeitores”, trocando por outros com os bolsos mais cheios de diamantes, num piscar de olhos, depenando até o último centavo dos seus alvos escolhidos, sem dor nenhuma na consciência, e sem contudo entregar a contento a mercadoria combinada.

Por tudo isso digo que a personagem me provocou tanta ânsia de vômito, como me provocaria um personagem masculino com as mesmas características. A questão está na desonestidade desses tipos. Porém, o livro narrado em primeira pessoa, sob a forma de um diário da protagonista, também me arrancou muitos risos com a forma infantil e pouco culta, e com a naturalidade com que Lorelei Lee narra seus dias em Nova York e pela Europa, caçando milionários. É um paradoxo, eu sei, e dificilmente conseguiria explicar isso a vocês.

Talvez seja porque na vida real todos nós conhecemos tantos “cavalheiros” que caíram ou estão presos às Loreleis, e que sabemos serem merecedores desse castigo, tanta hipocrisia e preconceitos foram cultivados por eles ao longo das suas jornadas. Então, olhamos para eles nas casas vizinhas às nossas e dizemos: Esses merecem!

O fato: Os Homens Preferem as Louras é um dos maiores romances americanos de todos os tempos, um retrato delicioso da Era do Jazz, um clássico, inteligente, crítico, e muito engraçado. E as Loreleis do novo milênio se mantêm com sex appel inabalável, apresentando programas de auditório, desfilando ao lado dos mais cobiçados milionários, artistas e atletas do planeta. Afinal, são tão eternas quanto os diamantes que cultivam.


Bom lembrar que Marilyn Monroe interpretou a personagem no filme de mesmo nome, em 1953. O filme é muito bom de se ver, um programa que também recomendo, mas, como sempre em Hollywood, amenizaram completamente a falta de caráter da personagem principal. A Lorelei do filme é um outro tipo. Portanto, mesmo valendo muito assistir Os Homens Preferem as Louras, se quiser um retrato mais fiel da obra de Anita Loos a sua escolha deve ser pelo livro traduzido por Beatriz Horta.


Abraços!
Christian Petrizi

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