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sábado, 8 de dezembro de 2018

TRÊS ADAPTAÇÕES DE UMA MESMA HISTÓRIA DE SHIRLEY JACKSON

The Haunting of Hill House (A Assombração da Casa da Colina - BR) 1959

“Nenhum indivíduo vivo pode existir com sanidade por longo tempo em condições de realidade absoluta; até as cotovias e os gafanhotos, pelo que alguns dizem, sonham.” – Shirley Jackson nas primeiras linhas de seu mais importante livro.
Quando a Netflix resolveu lançar o seriado  A Maldição da Residência Hill, baseado no livro de Shirley Jackson de 1959, além de alcançar grande sucesso com seu público, conseguiu também jogar holofotes sobre o nome da escritora norte-americana de suspense e terror, que, se não andava no ostracismo, ao menos não recebia a devida atenção que sempre mereceu. Citada por grandes nomes das artes, como Stephen King e Steven Spielberg, como referência no gênero terror sobrenatural, ao longo de duas décadas Jackson escreveu grandes obras consideradas seminais, que influenciaram esses e outros grandes escritores e diretores de cinema.
A verdade é que a escritora era uma avessa a entrevistas, mesmo quando eram para divulgar seus livros, e muito menos gostava de opinar sobre outras questões, mantendo-se reclusa por toda sua curta vida (morreu aos 48 anos). Ela julgava que seus livros eram claros o suficiente para falar por ela sobre as questões de sua época, onde a Guerra Fria entre Capitalismo e Socialismo influenciavam muito suas criações e de outros escritores.


The Haunting of Hill House foi seu quinto livro, considerado pela crítica um dos maiores romances de horror do Século XX. A história gira em torno de um grupo heterogêneo de pessoas que se reúne sob o controle de um psicólogo, e participam de um estudo paranormal em uma mansão supostamente mal-assombrada, intercalando na trama fenômenos sobrenaturais com psicologia. Daí fica claro que a série produzida pela Netflix fugiu muito da história original, mantendo apenas os panos de fundo da trama do livro, fazendo circular por eles os novos personagens, membros de uma mesma família que viveu na tal mansão.
Mais fiéis à trama original do livro são os filmes para o cinema. O mais cultuado deles, Desafio do Além de 1963, do diretor Robert Wise, foi muito bem recebido pela crítica e pelo público da época, tornando-se hoje um cult movie presente em todas as listas sobre os mais importantes filmes de terror. Nesse clássico, o diretor Robert Wise teve a grande sacada de perceber que a história era muito mais que uma trama de assombração, tendo o colapso mental dos fantasmas da casa como ponto forte para o roteiro. Aliás, esse é um ponto em que também a série da Netflix acerta, mesmo com outros personagens.
O filme foi rodado na Inglaterra, pela MGM British Studios, tendo a Ettington Hall (hoje um hotel) como cenário externo. Claire Bloom ao interpretar a lésbica Teodora, representou para o filme dos anos 60 o toque de ousadia que faltava, mesmo que esse tema tenha sido tratado de modo mais sutil que no livro de Shirley Jackson. Se quiser conferir esse clássico, é só clicar no link abaixo para ser direcionado ao Blog Clássicos Sombrios, onde pode assistir online.











Para assistir ao clássico de 1963, clique aqui!







Esse filme teve um remake em 1999, inicialmente trabalhado pelo diretor Wes Craven, que o abandonou no início, deixando para Jan de Bont a tarefa de dirigir o longa. Estrelado por Lian Neeson e Catherine Zeta-Jones, foi duramente criticado pelo excesso de efeitos especiais. Porém, se quiser conferir o trabalho, o link abaixo do mesmo blog também traz o filme online. Para mim, o excesso só acontece no final, sendo mais de 80% da obra bastante respeitosa quanto ao filme original.
















Vale ler o livro de Shirley Jackson, vale assistir o filme de Robert Wise. Um domingo chuvoso de dezembro favorece a atmosfera de terror sobrenatural e psicológico criado pela escritora.

O livro A Assombração da Casa da Colina está à venda nos principais sites de livrarias online. Também está disponível para baixar gratuitamente ou para ler online (domínio público), para os que curtem o formato e-book. Basta clicar neste link abaixo e escolher o melhor formato:


















Abraços!
Christian Petrizi

domingo, 2 de dezembro de 2018

O PRIMEIRO SALSEIRO ENTRE CELEBRIDADES DO SÉC. XX. AMIZADE OU EMBATE ENTRE CONAN DOYLE E HOUDINI?


Por volta de 1920, uma série de fatores e acontecimentos uniram dois artistas dos mais queridos e celebrados de sua época, que permaneceriam cultuados até nossos dias: o escritor Conan Doyle e o mágico escapista Harry Houdini.

Nos Estados Unidos, Houdini e suas façanhas eram celebradas, e exportadas para o mundo. Começou como mágico de números tradicionais com cartas, mas rapidamente se tornou notável por seus espetáculos de escapismo, que iam de camisas de força e algemas até a temível caixa de água da tortura chinesa. Abaixo podemos ver algumas fotos e vídeos da época.
(Primeiro filme mostrando Houdini. O salto de uma ponte com algemas)
Do outro lado do Atlântico, na Inglaterra, o escritor Arthur Conan Doyle conquistava leitores e também era exportado para o mundo, através dos seus livros no gênero suspense policial, onde a lógica e o elementar eram as ferramentas de trabalho do seu principal personagem, o maior detetive da literatura de todos os tempos, Sherlock Holmes.
(Primeira edição de Um Estudo em Vermelho)
Paralelamente ao desenvolvimento artístico, social e intelectual desses dois grandes homens da razão (Houdini também o era, pois sempre afirmou serem truques de ilusionismo o que fazia), florescia nos dois continentes as bases do que no futuro se transformaria em uma doutrina, mas que naqueles tempos era mais objeto de curiosidade e exploração dos crentes, o espiritismo cristão. E se por um lado havia homens como Allan Kardec estudando seriamente esse fenômeno, por outro havia uma legião de farsantes que explorava a fé dos que perderam seus entes queridos, com truques que iam de mesas que levitavam nas tais “sessões espíritas” à captação de espectros em fotografias trucadas onde espíritos se revelavam nas chapas tiradas com os vivos.
E qual o posicionamento dos nossos grandes homens citados perante tudo isso?
Conan Doyle entrou de cabeça nos estudos do espiritismo, inclusive escrevendo muitos livros sobre o tema, sendo considerado até hoje um dos grandes nomes dos primeiros anos da doutrina. Esse mergulho no além, especula-se, foi motivado por muitas perdas sofridas durante as duas primeiras décadas do Séc. XX: uma esposa, um filho, dois netos, um irmão e dois cunhados. E Doyle se mantinha sempre crente na existência de vida após a morte, mesmo descobrindo depois algumas farsas, como as fotos tiradas com ele, onde espectros apareciam ao seu lado.

Já Houdini manteve uma posição dúbia sobre o espiritismo de 1913 até 1920, ano que marca seu mais profundo envolvimento com Doyle. Em 1913 morreu sua mãe, e o amor que o unia a sua progenitora era algo tão intenso que merecia uma postagem à parte nesse blog. Pois bem, durante esses anos ele seguiu duvidando, investigando e desmascarando os truques dos falsos espíritas (pois ele próprio era um especialista em truques), porém extremamente desejoso de encontrar um médium verdadeiro que possibilitasse um contato com sua falecida mãe, a quem ele classificava de anjo e esteio da sua vida aqui na Terra. Houdini queria acreditar na “mágica” da vida!
(Os dois amores de Houdini: a mãe que faleceu em 1913 e a esposa)

(Houdini chegou a ser dono de cia. cinematográfica, onde era ator principal)
Entretanto, somente em 1920, no seu encontro com o escritor Conan Doyle, o mágico Houdini passou a enxergar esse contato entre vivos e mortos como uma possibilidade real. Doyle lhe descreveu maravilhosos fenômenos por ele investigados, e Houdini aceitou sair com o novo amigo em peregrinação de um ano atrás desses possíveis médiuns verdadeiros. Mas... por onde passavam, onde o escritor via um maravilhoso fenômeno espiritual, o mágico só conseguia enxergar o truque e a trapaça. E seguiam um tentando convencer o outro sobre seus pontos de vista.

Era evidente que essa amizade estava com os dias contados.

Esse clímax aconteceu mais precisamente no dia 17 de julho de 1922, quando Arthur e sua segunda esposa, que se dizia médium, convidaram Harry para uma sessão privada, no quarto de um hotel onde se hospedaram os três em Atlantic City, em férias. Jean, a esposa de Arthur, começou a sessão, e por um momento chegou a emocionar Harry ao psicografar uma carta de 15 páginas, supostamente enviada pela querida mãe do mágico.

Porém, passada a emoção, Houdini notou quatro pontos gritantes que o faziam duvidar da veracidade do contato.
1)A carta era psicografada em inglês, e sua mãe nunca havia aprendido o idioma.
2)Na tal carta, sua suposta mãe o chamava de Harry, e ela nunca havia feito isso, pois Harry era apenas o seu nome artístico. Seu verdadeiro nome era Erik.
3)O dia da sessão era o dia do aniversário de Houdini, e não havia menção a isso na carta. Sua mãe nunca antes esquecera essa data.
4)Jean, supostamente incorporando a falecida mãe de Houdini, começou com um sinal da cruz. Mas a mãe de Houdini era judia, portanto...
A representação abaixo, trecho retirado de uma minissérie sobre Houdini, mostra bem como tudo aconteceu:
Enfim, num primeiro momento o mágico nada disse, porém depois explodiu, indo até a imprensa para revelar o desserviço prestado por Arthur Conan Doyle aos crentes. Uma intensa troca de farpas pelos jornais dos dois lados do Atlântico manteve o público ligado nas fofocas (essa era a versão dos programas de farândolas entre celebridades daquela época).

E esse foi o momento de ruptura entre os dois gênios, marcando também o período militante de Houdini contra os falsos espíritas. Nesses anos, seu passatempo predileto era invadir sessões mundo afora, disfarçado junto a policiais, e, ao descobrir o truque usado pelos mal-intencionados, se levantar dramaticamente, retirar o disfarce, e gritar:


- Eu sou Houdini. E você é uma fraude!
NOTA: Não é a intenção desse escritor criticar qualquer religião. Assim como reconheço que sempre existiram e existem falsos religiosos explorando a fé alheia, também reconheço que amor ao próximo e conforto espiritual pode ser recebido em todas as igrejas. Muito menos desejo emitir um mau juízo sobre as intenções do grande escritor Arthur Conan Doyle, gênio da literatura policial e abnegado em sua fé.

E você não se esqueça de clicar em “se inscrever” lá no alto da página (botão azul).
Abraços,
Christian Petrizi