Antes
de tudo, é preciso que você me conheça. Sou um homem que respeita com igualdade
todos os gêneros que existem sobre a face da terra, e abaixo dela também. Outra
coisa, não sou do time da Damares no que se refere ao combate à prostituição.
Considero esse um serviço como outro qualquer, sem nenhum tipo de demonização
ou glamorização: alguém oferece um serviço que outros necessitam, recebe por
isso e deve fornecer o melhor trabalho, e só, como deve ser no bom e velho
Sistema Capitalista do qual sou adepto. Apenas sou intransigente quanto ao bom
caráter e a honestidade das pessoas, seja qual for a sua função social.
Todo
esse parágrafo é para poder comentar OS HOMENS PREFEREM AS LOURAS, nos dias de
policiamento em que vivemos, best seller de Anita Loos de 1925, lançado no
Brasil somente em 2000. Um delicioso retrato da loura burra desprovida de
neurônios, nem um pouco escrupulosa, que vence pela beleza e cabelos dourados
emoldurando a cabecinha completamente oca. O nome dela não é Jenifer (ou
Jéssica, sei lá!), e sim Lorelei Lee.
(Anita Loos em 1925)
Essa
foi minha primeira e certeira leitura de 2019. Uma leitura “devina”, como
Lorelei adora se referir em seu diário, digno do grande teatrólogo “Shakespir”,
mas não daquela famosa tragédia que aconteceu com ele em “Ramlet”. E preciso
confessar, até mesmo para recomendar: nunca um livro me fez gargalhar tanto, e
ao mesmo tempo sentir tanta raiva pela postura inescrupulosa e antiética de uma
personagem. Então, agora sou eu que digo que esse livro é mesmo “devino” e
bastante “educativo”.
A
verdade é que a loura burra é um mito! Sim, porque ela bem pode ser morena,
ruiva, negra, e até um homem. A valorização da beleza física e o desprezo pela
cultura, a glamorização do golpista e da “esperteza”, sempre estiveram
presentes nas nossas sociedades, independente de sexo e da cor do cabelo.
Porém, o mito foi criado a partir desse livro de 1925, seguindo até nossos dias
(pobre das louras superinteligentes que estão por aí, precisando provar dia a dia o
seu valor...). Mas, como o objetivo é falar sobre Lorelei, vamos nos referir a
loura burra e safada, sem querer parecer misógino, sexista ou racista. Ok?
A
personagem Lorelei é terrível! Isso é o mínimo que poderia usar para me referir
a dita pessoa. Ela se traveste de infantilóide para aplicar seus golpes nos
“cavalheiros”. Cultiva a ignorância, porque sabe que os tais cavalheiros gostam
disso numa mulher (a escritora Anita Loos foi bem crítica nesse ponto). A loura
do livro sabe como manipular um homem à perfeição, traindo seus “benfeitores”,
trocando por outros com os bolsos mais cheios de diamantes, num piscar de
olhos, depenando até o último centavo dos seus alvos escolhidos, sem dor
nenhuma na consciência, e sem contudo entregar a contento a mercadoria
combinada.
Por
tudo isso digo que a personagem me provocou tanta ânsia de vômito, como me
provocaria um personagem masculino com as mesmas características. A questão está
na desonestidade desses tipos. Porém, o livro narrado em primeira pessoa, sob a
forma de um diário da protagonista, também me arrancou muitos risos com a forma
infantil e pouco culta, e com a naturalidade com que Lorelei Lee narra seus
dias em Nova York e pela Europa, caçando milionários. É um paradoxo, eu
sei, e dificilmente conseguiria explicar isso a vocês.
Talvez
seja porque na vida real todos nós conhecemos tantos “cavalheiros” que caíram
ou estão presos às Loreleis, e que sabemos serem merecedores desse castigo,
tanta hipocrisia e preconceitos foram cultivados por eles ao longo das suas
jornadas. Então, olhamos para eles nas casas vizinhas às nossas e dizemos:
Esses merecem!
O
fato: Os Homens Preferem as Louras é um dos maiores romances americanos de
todos os tempos, um retrato delicioso da Era do Jazz, um clássico, inteligente,
crítico, e muito engraçado. E as Loreleis do novo milênio se mantêm com sex
appel inabalável, apresentando programas de auditório, desfilando ao lado dos
mais cobiçados milionários, artistas e atletas do planeta. Afinal, são tão
eternas quanto os diamantes que cultivam.
Bom
lembrar que Marilyn Monroe interpretou a personagem no filme de mesmo nome, em
1953. O filme é muito bom de se ver, um programa que também recomendo, mas,
como sempre em Hollywood, amenizaram completamente a falta de caráter da
personagem principal. A Lorelei do filme é um outro tipo. Portanto, mesmo
valendo muito assistir Os Homens Preferem as Louras, se quiser um retrato mais
fiel da obra de Anita Loos a sua escolha deve ser pelo livro traduzido por
Beatriz Horta.
Abraços!
Christian
Petrizi