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domingo, 25 de novembro de 2018

A GRANDE VIAGEM de IVANI RIBEIRO no suspense policial


O ano era 1965, e o vídeo-tape ainda era novidade na TV brasileira. Até pouco tempo antes, as telenovelas eram ao vivo. Em primeiro de novembro daquele ano, a TV Excelcior de São Paulo (precursora do padrão Globo de qualidade), colocava no ar uma obra inédita da grande escritora do momento, Ivani Ribeiro, e mergulhava no gênero ainda não potencialmente explorado em novelas, o suspense policial.

A GRANDE VIAGEM – 19h30min. com direção de Walter Avancini.
Para aqueles que pensam que o suspense na TV começou nos anos 90 com A Próxima Vítima, de Silvio de Abreu, saiba que o próprio Silvio bebeu na fonte de Ivani para começar a escrever suas histórias de suspense. Nos anos 60 ele era ator de TV, chegou a participar de obras da escritora e acima de tudo acompanhava com interesse as tramas da época. Nesse trecho de documentário da TV Cultura, Silvio nos fala daquela que foi uma de suas grandes fontes de inspiração:
Com pouca informação sobre o início da TV no Brasil, e quase nada disponível em arquivos de vídeo, não podemos dizer que A Grande Viagem tenha sido a primeira obra a navegar no gênero suspense, mas certamente podemos afirmar que a novela foi a primeira a explorar com enorme sucesso as tramas criminais, que no futuro dominariam a audiência brasileira.


Quem matou? Qual é a identidade do líder da organização criminosa? A quem estão protegendo? Essas e outras perguntas começaram a fazer parte da história da TV brasileira com a ousadia de Ivani Ribeiro em A Grande Viagem. 
Nilson Xavier, no blog Teledramaturgia nos conta como era a sinopse da novela:
Um grupo de pessoas bastante eclético parte num luxuoso transatlântico, o Monte Real, do nordeste brasileiro em direção ao sul. Durante a trajetória, Pardini, uma espécie de pirata moderno, se apossa do navio. Pardini desvia o navio para uma ilha onde uma fabulosa quantia em dinheiro está escondida. Ele é um homem frio e impiedoso, temido por todos, que recebe ordens de um misterioso chefe que está entre os passageiros. Pardini é tão mal que não exita em matar o velho Pedro, morador da ilha, por ele não querer revelar onde está o tesouro.

Fatos estranhos começam a acontecer na ilha: passageiros são seguidos, bagagens revistadas, incêndio, tentativas de assassinato, etc. Aos poucos vai ficando claro que se trata de uma organização criminosa e todos passam a ter medo até da própria sombra. O chefe misterioso tem um cúmplice. Quem seria o chefe e seu cúmplice?
Bom, não é preciso dizer que o clima foi de suspense policial do princípio ao fim dessa viagem. Porém, no final da novela, em fevereiro de 1966 (as tramas da época duravam de 3 a 4 meses), algo aconteceu envolvendo imprensa, autora e TV, que viria a definir os hábitos das gravações até os dias atuais. Saiba o que aconteceu nas palavras de Fabio Costa, autor do livro “Novela, a obra aberta e seus problemas”:
A imprensa descobriu o final da novela e publicou o furo, que revelava o grande mistério da trama: que o médico Renato (Daniel Filho) era o chefe dos bandidos que pretendiam se apossar de uma fortuna escondida na ilha. Ivani então reescreveu o final, gravado só no dia em que foi ao ar, mantendo assim o grande mistério. A autora transferiu ao velho Pedro, morador da ilha (Procópio Ferreira), a condição de líder dos ladrões, como se ele houvesse se fingido de morto para assustar os passageiros.
Não é preciso relembrar aqui todas as novelas que tiveram seu último capítulo gravado somente no dia em que foram ao ar. A própria novela de Silvio de Abreu usou desse artifício para manter o mistério até o final. O fato é que Ivani Ribeiro é referência até os dias de hoje para todo autor que deseja alcançar o sucesso na arte brasileira mais popular e também mais exportada para o mundo. Referência por esse artifício e também por várias outras de suas qualidades artísticas.
Depois desse sucesso, Ivani ainda escreveria dentro do gênero Os Fantoches, Almas de Pedra, Os Inocentes, entre outras tramas de mistério. No futuro viriam clássicos da TV como O Profeta, A Viagem, Mulheres de Areia, A Gata Comeu, entre outros sucessos. Fica então minha homenagem para minha novelista preferida, como fã que sou de um bom e velho folhetim.

Abraços,
Christian Petrizi

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