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terça-feira, 19 de maio de 2020

SEM MEDOS, NEM PRECONCEITOS, NEM ESPERANÇAS - AUTOPUBLICAÇÃO



Quando eu comecei a me aventurar na escrita, criando Crimes Bárbaros, meu primeiro livro de suspense policial, eu imaginava que enviaria o original de iniciante para todas as editoras tradicionais e receberia várias propostas de produção. Porém, não foi bem assim que aconteceu, como você deve imaginar.

Não vou nem citar aqui os problemas para que esse sonho se tornasse realidade, porque todas as dificuldades já são amplamente conhecidas. O que me sobrava naquele momento, após a escrita do livro, era a autopublicação, também conhecida como edição de autor, onde eu bancaria todos os custos de produção para ver meu livro nascer e criar vida, algo como fez o Dr. Frankenstein no livro de Mary Shelley.



O problema, na minha opinião naquela época, era que a autopublicação se tratava de uma saída degradante. Na verdade, por um bom tempo foi assim que os leitores encararam essa modalidade de produção de livros: o livro assim realizado seria um produto ruim recusado pelos profissionais da indústria, portanto não deveria ter valor.


Na minha ignorância, e na de muitos outros leitores, desconhecia o fato do grande José de Alencar ter autopublicado a maior parte de sua obra, de Machado de Assis haver começado assim, de Lima Barreto com seu Triste Fim de Policarpo Quaresma ter inclusive passado dificuldades financeiras para publicar esse clássico, e do espetacular Monteiro Lobato, após se autopublicar em editoras independentes, precisar criar sua própria editora para poder ver a cor do dinheiro gerado por suas obras que encantaram gerações de brasileiros.


Aliás, esse problema de dinheiro... Isso continuou imutável, desde os clássicos até ontem. Os custos para se produzir um livro, a falta de logística de distribuição e os baixos rendimentos que levaram escritores a passar dificuldades no passado continuaram no mesmo patamar. Crimes Bárbaros foi meu livro que mais vendeu até “ontem”, porém nunca recuperou o investimento feito por mim.




Eu depois passei por editoras que compraram meus projetos, mas desde Antinatural, em 2018, estou de volta à autopublicação. Inclusive levei todos os meus trabalhos anteriores para esse esquema, agora de uma forma totalmente diferente!

O que mudou desde então, e que me levou de volta para esse meio, foi o modo como se autopublica atualmente e a nova mentalidade de leitores. Hoje existem plataformas como Amazon Kindle e Clube de Autores onde podemos publicar sem custo algum, e os leitores, mesmo desconhecendo esses fatos históricos que relatei acima, estão mais dispostos a comprar novos escritores. Tanto que hoje em dia livros do Amazon frequentam as listas dos mais vendidos da Veja, por exemplo.


Essas plataformas na internet, com suas livrarias virtuais, publicam o livro físico e entregam em qualquer parte do Brasil e do mundo, além do formato e-book apreciado por alguns leitores. Obviamente devemos cuidar com muito mais atenção dos nossos trabalhos, pois também devemos pensar numa boa capa, numa adequada correção ortográfica e gramatical, na diagramação e até mesmo na escolha do tipo de papel em que o trabalho será impresso. Mas acredite, isso também dá um prazer enorme.



E mesmo que Luis Fernando Veríssimo tenha dito um dia “A má literatura é a literatura em estado puro, intocada por distrações como estilo, invenção, graça ou significado, reduzida ao ímpeto de escrever”, os cuidados com o texto ainda são muito valorizados e mais apreciados. Por isso, nós escritores devemos tentar fazer o nosso melhor, enquanto leitores estão nos dando essa oportunidade garimpando bons trabalhos autopublicados.

Assim digo para escritores e leitores: Não tenha medo, nem preconceitos, nem mesmo esperanças. Apenas se jogue na literatura de um lado ou de outro, que muitas joias estão surgindo para enfeitar ainda mais as nossas letras.

Christian Petrizi

 

 

 


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